sexta-feira, 1 de abril de 2011

A ESCOLA DA MINHA CIDADE 2

Assunto que na atualidade está em plena evidência, era real e dramático na década de 70, na minha escola em Rubim-MG, o Bullying. Não consigo entender até hoje o que leva uma pessoa a praticar qualquer tipo de violência com os outros, especialmente na escola. E não existia nenhum motivo sequer para tentar justificar esse tipo de atrocidade. O mais incrível disso tudo é que ninguém percebia o que estava acontecendo. Pois não aparecia ninguém, ninguém mesmo, para me socorrer. É isso mesmo! Eu era digna de ser socorrida. Graças a Deus que me deu a condição do esquecimento, pois tenho registrados em minha memória apenas alguns episódios, que pretendo apresentar neste pequeno texto, cuja finalidade é alertar pais e professores sobre essa horrenda prática.
Sempre fui baixinha e, infelizmente, essa característica não agia em meu favor. Quando criança, parecia uma boneca. Penso que os meus colegas achavam que eu era um brinquedo, sem nenhum sentimento. Até hoje ainda me lembro dos nomes dos “colegas terroristas”: Paulo Renan, Éder, Fernandinho e Murilo. O dia em que eles cismavam de me bater, nada mudava o rumo da história. Às vezes a tragédia era anunciada na própria sala de aula: __ Lá fora vou te pegar! Quando eu escutava essa frase o meu dia se resumia em pavor, medo e tristeza. Na minha casa ninguém podia saber do acontecido. Não conseguia falar porque tinha certeza que brigariam comigo. Como pode? Na verdade, a prática do bullying não era só privilégio da minha escola. Lá em casa também. Então, o melhor era ficar calada, senão o castigo seria dobrado.
Um triste dia, ainda no primeiro ano, um colega que se assentava atrás de mim disse: __ Se você mexer a cabeça, vou te pegar lá fora! Não entendo porque a professora nada percebeu. Eu fiquei travada! Durinha! Não sei precisar quanto tempo durou, para escutar a frase fatal: __ Você mexeu a cabeça, eu vi. Você me paga lá fora! Ao soar o sino eu corri muito. Porém, não adiantou o meu desespero, esse colega me alcançou e me bateu. Lembro-me que tinha platéia, sempre teve. Mas, não sei o que os colegas faziam lá, além de gritar coisas que eu não consigo recordar. Depois, eu só sabia chorar e ter o cuidado de chegar bem em casa.
Num outro dia um deles me abordou na saída da escola e me conduziu para uma antiga quadra de futebol. Na luta travada, segurou-me de cabeça para baixo e me deixou cair. Bati a cabeça num ferro velho. Feriu e sangrou um pouco. Com medo, meu colega me levou para a casa dele. Sua mãe cuidou do corte e disse pra não contar para a minha mãe. Nem precisava pedir...
Essas lembranças não me são agradáveis. Entretanto, precisam ser reveladas para que pais e escola se preocupem com o aspecto emocional das crianças. É necessário e urgente também que procurem incansavelmente formas de combater esse mal que destrói a escola. Com certeza, os alunos revelam por meio de diversas formas comportamentos que mostram seu estado emocional. O professor precisa desenvolver a sua sensibilidade para perceber os dilemas pelos quais passam os alunos. Muitos esquecem de que os alunos são crianças, adolescentes ou adultos, e portanto estão na escola com a sua bagagem completa. Demonstram seus traumas, angústias, ansiedades, tristezas e alegrias. Se considerar que uma interação saudável é fundamental para o favorecimento das aprendizagens, a escola deve primar pela qualidade das relações interpessoais de todos os atores da educação, especialmente das crianças. Uma educação que se diz integral, holística deve, na sua prática, atender o aluno na sua plenitude.
Quando professora, tinha preocupação com o bem estar de todos. Se visse um aluno triste e calado, sempre perguntava o que estava acontecendo. Ficava a imaginar o que poderia estar por trás de um choro que escutava. Estava sempre atenta, principalmente com os alunos mais quietos, tímidos.
O que mais me impressiona é que apesar destas coisas tristes que aconteciam comigo na escola, seguia amando-a de paixão. Ainda assim, considerava a escola o melhor lugar do mundo! Nunca pensei em deixá-la. Nada me abatia nem tirava o encantamento pela mesma. Ainda bem, mas não sei explicar esse tipo de relação.
Não consigo explicar, mas compreendo que a minha relação com a educação é composta por laços fortes. É um emaranhado de teias composto da mais sublime forma de amor pelo que faço, seja no chão da escola ou na sede da secretaria de educação. A educação faz parte de mim. Sou educadora independente das circunstâncias e do local. Dessa forma, sempre combaterei toda e qualquer forma de violência na escola.

Idalina Freitas Silva Magalhães